
Quando os idosos abandonam a si mesmos
A autonegligência se refere à pessoa cujo comportamento ameaça sua saúde e segurança. Em estudos em andamento em Chicago, Dong e seus colegas procuram fatores como acumulação (de objetos ou animais), má higiene pessoal e condições insalubres.
É por isso que o quadro pode passar despercebido em consultas médicas. "Se alguém entrou no meu escritório, vestindo camisa e calça limpas, eu não saberia que sua casa está uma bagunça. Você tem que observar o ambiente em que a pessoa vive", disse XinQi Dong, pesquisador do Instituto Rush para o Envelhecimento Saudável em Chicago.
Nos estudos de Chicago, envolvendo mais de 4,6 mil pessoas com mais de 65 anos, pesquisadores que conduziram entrevistas em domicílio descobriram que a autonegligência é preocupantemente comum.
Ela existe entre 9 e 10% dos homens e para 7,5 a 8,5% das mulheres, dependendo da idade. Alguns moradores proibiram o acesso a suas casas.
A negligência é mais comum entre aqueles com problemas de saúde e comprometimento cognitivo. Os afro-americanos e pessoas com baixa renda e educação apresentaram taxas muito maiores.
Doenças mentais e isolamento social são fatores de risco comprovados, mas, segundo Dong, entre as muitas perguntas sem resposta, podem também ser causa e efeito. As pessoas deprimidas negligenciam seus cuidados, ou as pessoas que se autonegligenciam se tornam deprimidas?
Quaisquer que sejam as causas subjacentes, a situação "é muito perigosa", disse Dong.
Quem vive nessas circunstâncias tem taxas mais altas de doença e morte, de idas ao pronto-socorro e de hospitalização. E há maior propensão de sofrer outras formas de abuso.
Ás vezes, essas histórias têm finais razoavelmente felizes. Dong trabalhou durante meses com uma paciente deprimida, de quase 70 anos, que sofria de dor crônica da artrite e danos neurológicos causados pelo diabetes, mas que não tomava sua medicação.
Uma visita à sua casa revelou que ela era uma acumuladora, e tropeçava nos fios elétricos conectados a tomadas sobrecarregadas.
Dong descobriu que os filhos dela estavam vendendo o OxyContin que ele lhe receitara, mas ela tinha medo de contar a alguém. Ao longo do tempo, mudou a medicação, enviou fisioterapeutas e enfermeiras e ajudou-a a perder peso.
A casa continua cheia de tralhas, jornais, caixas e sacos, mas, conforme sua mobilidade ia aumentando, ela passou a ser capaz de participar de atividades em sua igreja e no centro comunitário, seu isolamento diminuiu e seu humor melhorou. "A resposta precisa ser abrangente. Demorou muito para conseguir tudo isso", disse Dong.
Em San Antonio, Kirsch também tem histórias de sucesso, algumas com resultados mais perturbadores.
The New York Times News Service